Colonização de Santa Teresa
(O trecho abaixo, por sua vez, foi cedido ao autor do livro pelo Dr. Walfredo Zamprogno) "A área hoje ocupada pelo Município de Santa Teresa esteve compreendida nos antigos núcleos coloniais Antônio Prado e Bocaiúva, pertencendo, até 25 de novembro de 1890 ao Município de Santa Leopoldina, do qual foi nessa data desmembrado pelo decreto n.º 57.
Esses núcleos foram criados pelo Governo Imperial, a fim de receber a colonização estrangeira, notadamente a italiana, tendo-se procedido à respectiva demarcação territorial e divisão em lotes, depois do levantamento dos cursos de água principais. Os lotes coloniais locados eram de forma retangular ou quadrangular, com uma área de 302.500 m² medindo 275 m de frente para os cursos d'água, por 1.100 m de fundo, ou 550 m de lado os quadrangulares. Já existiam colonos italianos no núcleo de Conde d'Eu, posteriormente Pau Gigante, hoje lbiraçu, tendo o Governo feito seu enviado à Europa, em busca de imigrantes, um dos irmãos Tabacchi, o de nome Pietro, residentes naquele núcleo.
Em urna de suas viagens à Europa, a de 18/3, percorreu a Alta-Itália e parte da Áustria, demorando-se no Trentino, de onde era filho. Fez ele intensa propaganda, dos objetivos de sua viagem, chegando a publicar folhetos sobre a região a ser colonizada, os quais foram amplamente divulgados na Itália e Áustria.
Enquanto Tabacchi, na Europa, organizava as suas primeiras levas de emigrantes, a região de Santa Teresa era visitada pelos primeiros colonos dos muitos que haviam chegado ao Espírito Santo, a bordo do vapor francês Sofia, desembarcados no Porto de Santa Cruz, e dali conduzidos para o núcleo de Conde d'Eu.
Foi em 1874 que alguns desses imigrantes italianos, por motivos de insalubridade do local e em virtude das péssimas condições de vida a que eram submetidos, abandonaram as suas então recentes moradias na Fazenda Santana, próxima a Ibiraçu, pertencente a um tal Dr. Guaraná, e enveredaram pelas matas virgens do Vale do Rio Timbul, à procura de um clima que mais se aproximasse do da Alta Itália. Registramos-lhes os nomes, numa deferência especial, pois, na ocasião, lá no Município de Santa Teresa, não haviam ainda chegado os encarregados da demarcação das terras tendo sido eles, portanto, os primeiros a pisar o solo teresense. Ei-los pois: Paulo Casotti, Bernardo Comper, Lazaro Tonini, Giuseppe Paoli, Francesco Bassetti, Anibale Lazero, Daniele Palauro, Abramo Zurlo e Sebastiano Zamprogno.
Aos 12 dias do mês de abril de 1875, Tabacchi fez partir em um trem, da cidade de Trento, a primeira leva de imigrantes, destinada ao Havre. Em 17 de abril levantava ferros dessa Cidade, o navio Rivadávia trazendo em seu bojo sessenta famílias venetas e trentinas. Em viagem direta chegaram ao Rio de Janeiro, a 9 de maio, e foram, em seguida encaminhados a Barra do Pirai, onde ficaram concentrados até 17 do mesmo mês, sendo reembarcados, posteriormente, para Vitória, onde saltaram a 31. Abastecidos pelo Governo de gêneros alimentícios e instrumentos para o trabalho da terra, iniciaram a viagem rumo a Santa Teresa, viajando em canoas, até o então porto de Cachoeiro.
Ao partir de Vitória, agregou-se à coluna dos imigrantes um brasileiro, o Juca Quintais, que os acompanhou, tornando-se comerciante, logo que instalados no Barracamento de Santa Teresa. Foi o Juca Quintais, o pai do primeiro teresense. "As primeiras construções feitas foram o barracamento para abrigo dos imigrantes, a casa do vice-diretor de imigração, Frans Von Lipp e a do Juca Quintais, que nela instalou seu estabelecimento comercial. Entre outras famílias de imigrantes, integravam essa coluna as de Virgílio Lambert, Antonio Lambert, Fedele Martinelli, Andrea Martinelli, Felippo Bortolini, Eugenio Cuel, Lorenzo Dipré, Paolo Paoli, Giovani Battista Paoli, Pietro Margon, Antonio Margon, Giovanni Angeli, Luigi Angeli, Cirilo Bellumat, David Casteluber, Mateo Daíprá, Giorgio Martinelli, Giorgio Gasperazzo, Massimo Gasperazzo, Dommenico Gasperazzo, Domenico Gozzer, Antonio Coser, Angelo Coser, Giovanni Broseghini, Alessandro Felippi, Celeste Rosa, Pietro Costa, Giuseppe Dalíapiccola, Paolo Montibeler, Luigi Zoteile, Pietro Postai, Lazero Andreata, Francesco Rover, Tomaso Armelini, Giacomo Passamani, Pietro Rassele, Giuseppe Margon, Paolo Zotefle, Antonio Zanetti, Baldassare Zonta, Pietro Valandro, Luigi Tomazelli, Pietro Lens, Adone Avancini, Giovanni Moschen, EnricoPaoli, Pietro Avancini, Giuseppe Bortolini, Daniele Mer, Ciacinto Felippi, Domenico Montibeler, Albino Scalzer, Lorenzo Margon, Acchile Mosmago, Angelo Margon, Antonio Margon, Luigi Angeli, Francesco Scalzer, Antonio Palauro, Domenico Echer, Augusto Palauro.
No dia 26 de junho do mesmo ano (1875), foi feito, portanto, o sorteio dos lotes coloniais, e entrega dos mesmos aos colonos. A escolha desta data pelos colonos italianos prendeu-se ao fato de ser ele o dia consagrado a São Virgílio padroeiro do Trentino. Ainda não tinha nome o agrupamento de barracas, opondo-se o Sr. Von Lipp a que fosse São Virgílio. Aconteceu, porém que, no dia 15 de outubro, à sombra do grande Pau Peba, onde se reuniam, à hora do Angelus, os imigrantes, uma devota de nome Niaria Zonta, colocou uma imagem de Santa Teresa, trazida da Itália. Desde então passou a chamar-se Santa Teresa, a sede improvisada para o núcleo Antônio Prado. Em 1876, novas levas de imigrantes lá aportaram, ainda provenientes do norte da Itália e do Trentino embarcados no porto de Havre, diretamente para o Espírito Santo, tendo passado o Natal ao largo de Vitória, nos navos franceses Fenelon e Rivadávia, novamente. Enumeramos aqui, entre outras as famílias de: Domenico Broilo, Fortunato Broilo, Giuseppe Corteletti, Ciovanni Carlini, Domenico Tamanini, Daniele Rizzi, Anselmo Frizzera, Domenico Taffner, Tomazo Briddi, Antonio Perini, Antonio Roatti, Mansuetto Briddi e Carlo De Carli.
Outros vieram pelos navios Adria e Polcevere ainda partindo de portos franceses. Os venetos e os lombardos vieram diretamente da Itália neste mesmo ano, tendo embarcado em Génova no navio Colômbia diretos ao Rio de Janeiro, tendo sido baldeados para outra embarcação que os trouxe a Vitória, onde chegaram no mês de outubro e daqui rumando para Santa Teresa. Desta feita encontravam-se dentre outros os seguintes, com respectivas famílias: Andrea Gasparini, Battista Rossi, Augusto Boognini, Ferdinando Ciugni, Ciovanni Battista Luppi, Giovanni Zanca, Luigi Pasolini, Emiliano Ferrari, Luigi Gua tolini, Sebastiano Toresani, Caetano Silingardi, Angelo Aleprandi, Giovanni Muli, Domenico Mellotti, Giuseppe Rondelli, Luigi Pretti, Pietro Ferrari, Carlo Có, Antônio Có, Fedele Carosi, Augusto Carosi, Giuseppe Benedusi, Angelo Armani, Biagio Craziotti, Alessandro Bonatto, Luigi Bianchi, Giuseppe Simonassi, Michele Fritoili, Ciuseppe Regatiere, Enrico Cerchi, Basilio Costa, Angelo Guerra, Giacomo Maestrini, Biaggio Ferrari, Ciovanni Dalmascho, Angeo Pozzati, Enrico Dalcomune, Michele Gastaldi, Felippo Vigano, Abramo Cagliari, Santo Storari, Ferdinando Zampieri, Luigi Bason, Vittorio Casparini, Francesco Pittol, Luigi Luppi, Ciacomo Ferrari, Giuseppe Craziotti, Angelo Graziotti, Ciovanni Giovanni, Carlo Medani, Cesare Lodi, Cesare Ferrari, Cerolamo Mattedi.
Voltou à Europa, neste ano, o Sr. Tabacchi, trazendo em sua companhia o Padre Domenico Martinelli, que celebrou a primeira missa em Santa Teresa, no dia 27 de junho de 1876, exatamente no local onde está edificada aquela Cidade. Em 1877, recebeu nova corrente imigratória, chefiada pelo Capitão João Birchler, Guilherme Graff, João Jacob Scnneider e Carlos Nippes.
Vinham da Suíça, e da Alemanha e rumaram para c Centro do núcleo, estabelecendo-se no Vale do Rio 25 de julho, hoje Distrito daquele Município. No mesmo ano, lá chegaram os poloneses, tendo sido localizados no Vale do Rio 5 de novembro em torno do atual Patrimônio de Santo Antônio, anteriormente chamado Patrimônio dos Polacos”.
Como se observa, no Município foi introduzida à colonização estrangeira, nos anos de 1875 a 1877, tendo sido recebidos, como se vê, imigrantes italianos, alemães, poloneses e suíços.
De 1877 a 1890, ainda chegaram, em pequenos grupos, alguns colonos, como sempre, na sua grande maioria, italianos. Do número de estrangeiros, calculados em 3.500, no de 1897, aproximadamente 80% era de italianos.
Era diretor-geral de colonização o Sr. Santana Lopes e vice-diretor, o Sr. Frans Von Lipp, que tinha como auxiliares os agrimensores Julião Floriano do Espírito Santo, Guilherme Schumalowsky, polonês, e Charles Peletan, francês. O vice-diretor Von Lipp era oficial do exército regular austríaco, tendo aportado ao Brasil vindo do México, onde exercia as funções de ajudante de campo de S. A. Maximiliano da Áustria. Em 1882, fundou-se a primeira escola em terras teresenses. Era uma escola particular, regida pelo médico suíço Dr. Emilio Haussler, mandado vir pelos colonos suíços e alemães, localizados no Rio 25 de julho.
Retirando-se em 1889 o Dr. Haussler, foi a regência da escola confiada ao professor Anton Bíaser, que a regeu por muitos anos.
Em 1880 ficaram concluídas as obras de uma modesta igreja, na qual foi aposta a pomposa inscrição: -DUOMO DEDICATO A SAN VIRGILIO - Foi em 26 de junho que nela se celebrou a primeira missa. O Imperador Pedro II, mandou os sinos do campanário, que hoje servem à Matriz da Cidade.
Ainda em 1880, passaram por aquela região, os engenheiros, com as linhas de estudo da Estrada de Ferro Vitória a Peçanha. Visitou aquelas paragens, no início de sua colonização um embaixador de 5. M. Francisco José, Imperador da Áustria e Rei Apostólico da Hungria; seguiu-se a visita de duas princesas da Baviera, acompanhadas por um barão, que não nos fizeram boas referências no livro de viagem por elas publicado, em 1887, 'na Alemanha. Haviam julgado que, decorridos apenas seis anos do início da colonização, viriam encontrar aqui, seus compatriotas já instalados em suntuosos castelos. Aliás, é bom que se diga, as referências não lisonjeiras foram feitas unicamente aos seus patrícios.
Uma vez localizados, feitas as primeiras derrubadas e construídas as primeiras habitações, iniciaram os colonos o cultivo da terra. A cultura do café foi a que mais ocupou a sua atividade seguindo-se-lhe as do milho e de outros cereais.
Nas zonas altas, principalmente, onde se acha hoje o distrito da sede, fizeram, com bons resultados, a cultura da videira, até agora explorada.
Pelo colono Virgílio Lambert, foi iniciada uma pequena cultura do bicho-da-seda, também com magníficos resultados. Esta cultura, que não logrou, então, qualquer incentivo dos poderes públicos, serviu para demonstrar a sua praticabilidade naquela região. A primeira produção foi obtida em 1880; mais tarde chegou a ser obtida, com o trabalho de uma só pessoa uma produção de 25 quilos de casulos, no espaço de 45 dias.
Remetido o produto para a exposição de Berlim, em 1886, logrou obter medalha de bronze; em 1889, na Exposição de Paris, obteve menção honrosa. Deixou o Sr. Virgílio Lambert sobre esta cultura interessante estudo, a que juntou valiosas observações feitas durante os onze anos em que se dedicou a sericicultura. Transcrevemos uma nota publicada a este respeito, pela Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1880: "Chegou, há dias, do Espírito Santo, o colono italiano Virgílio Lambert, que, na colônia Leopoldina, em Santa Teresa do Timbuí fez, há cerca de três anos, uma plantação de amoreiras e, em janeiro deste ano, começou a criação do bicho-da-seda".
Mostrou-nos o laborioso colono um quadro em que se vêem as diversas fases do bicho e duas meadas de excelente seda.
A indústria da seda é de grande futuro para o País, porque, além do grande desenvolvimento que aqui atingem as amoreiras conservam-se elas verdes em quase todo o ano, o que permite um número maior de reproduções do bicho do que se obtém na Europa. O atual Sr. Ministro da Agricultura prestaria mais um bom serviço se encorajasse o laborioso colono.
Por portaria de 25 de fevereiro de 1889, o Exmo. Sr. D. João Batista Correa Nerv, Bispo de Vitória, nomeou o primeiro vigário de Santa Teresa, Padre Marcelino Maroni D'Agnadello expedindo a provisão que criava a Paróquia, isso após a visita efetuada, a 18 de fevereiro do mesmo ano, pelo referido prelado àquela então povoação.
Em 1899, D. João Nery pediu frades à Missão Fluminense dos Capuchinhos do Morro do Castelo para a paróquia de Santa Teresa.
Lá chegaram, em 29 de novembro, de 1899, os Revmos. Frei Eugenio de Comiso, vigário, e Frei Caetano de Comiso coadjutor, ambos procedentes da Sicília, Itália. Em 1.0 de junho de 1902 foi colocada a primeira pedra da atual Matriz, tendo sido as obras conduzidas pelo engenheiro Guilherme Oates.
Ainda em 1902 fundaram os Padres Capuchinhos um Colégio, que trouxe grandes benefícios à instrução e educação de um elevado número de chefes de família, lavradores, comerciantes e profissionais liberais que honraram e honram o Município, dentro e fora do Estado.
O Colégio obteve incentivo e auxílios de materiais didáticos e escolares do então cônsul italiano nesta Cidade, Sr. Giovani Batista Beverini, grande oficial da Coroa da Itália. Foi dado ao Colégio, inicialmente, o nome de Rita Beverini Machiavelli, em homenagem à falecida esposa do então cônsul italiano. Posteriormente, o mencionado Colégio passou a ser denominado Colégio Ítalo-Brasileiro. Em 1935 foi este Colégio transformado no atual Seminário Seráfico São Francisco de Assis.
A instalação oficia' do Município de Santa Teresa verificou-se a 22 de fevereiro de 1891, levada a efeito solenemente pelo Presidente do Governo Municipal de Santa Leopoldina.
Nessa ocasião, foi empossada a Intendência Municipal de Santa Teresa, assim constituída:
Presidente: Jerônimo Vervloet (luxemburguês), Intendente: Fortunato Broilo (italiano), Alexandre Felipe (austríaco), Dr. Emilio Hausller (suíço) e Julião Floriano do Espírito Santo (brasileiro).
Convém notar que eram bem outros os tempos: cinco diferentes nacionalidades compunham uma administração harmônica do Município e todos visavam apenas o progresso e o engrandecimento daquele rincão.
Para que se tenha uma idéia do que foi a imigração italiana no Município de Santa Teresa, transcrevemos o seguinte fato, tirado do livro Geografia do Estado do Espírito Santo, do autor Carlos Mattos, em 1925: "A população do Município de Santa Teresa é aproximadamente de 19.000 habitantes, composta em sua grande maioria de estrangeiros que, com exceção de alguns belgas e alguns suíços, são italianos".
Um anúncio, em 1900 dizia: "Santa Teresa é atualmente um dos Municípios mais importantes e mais ricos do Estado e sua grandeza devemo-la principalmente aos mesmos tenazes imigrantes italianos que a fundaram e a seus numerosíssimos descendentes".
PRIMEIROS MORADORES DE VALSUGANA NOVA 06 de abril de 1879
SANTA TERESA - Estado do Espírito Santo
Santo Botassi
Emilio Romagna
Giuseppe Dalíapiccola
Domenico Gozzer
Domenico Gasperazzo
Giovanni Angeli
João Bender
Paulo Paoli
Antonio Rosi
Antonio Zanetti
Vittorio Piva
Mansueto Dalcolmo
Francesco Rover
Paulo Montibeller
Paulo Zottele
Sebastiano Zamprogno
Pietro Costa
Giordano Dalmaso
Angelo Valandro
João Souza
Ciorgio Martinelli
Giovani Paoli
Mateo Dalpiva
Angelo Armelini
Giocondo Cetto
Fedele Martinelli
Ass. José Romagna - 02/08/1957
Cópia do original se encontra na Igreja de São Luiz, em Valsugana Nova, município de Santa Teresa-ES.